Sexta-feira Santa em Macau

A celebração da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo é a celebração mais importante da Igreja Católica e a Pedra Angular da Religião Católica.

Pelo pecado original por desobediência a Deus, cometido por Adão e Eva no Paraíso quando, tentados pelo demónio em forma de serpente, foram castigados, expulsos e condenados à morte até que o Messias, Filho de Deus feito Homem, prometido por Deus, resgatasse com a sua própria vida, toda a humanidade e a restituísse à vida eterna no Paraíso Celeste reabrindo as suas portas desde então encerradas.

É na Quaresma que tem o seu início na Quarta-Feira de Cinzas e que nos lembra que somos pó e que em pó tornaremos quando deixarmos esta caminhada para voltarmos ao Pai, que começamos a preparação da Páscoa que culmina com o Domingo de Ramos, lembrando a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém para se cumprir a Sagrada Escritura. É no Domingo de Ramos que dá o início da mais importante celebração da Igreja Católica - “A Morte e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”. É nesta semana que, antes do Concílio Vaticano II convocado em Dezembro de 1961 e iniciado em Outubro de 1962 pelo então Papa João XXIII,  e concluído e levado a efeito pelo seu sucessor O Papa Paulo VI em Dezembro de 1965, todas as Imagens das Igrejas de todo o mundo eram tapadas e cobertas com pano roxo para lembrar a “Semana da Paixão e Morte de Jesus Cristo”. Foi com a entrada em vigor das Regras instituídas pelo Concílio Vaticano II que a Igreja se abriu enfrentando as mudanças da modernização do mundo.

Quaresma, tempo de Penitência, Meditação e preparação para a Páscoa.

Em Macau o primeiro Domingo de Quaresma é marcado e celebrado com uma grande procissão. A “Procissão de Nosso Senhor dos Passos” que é uma Via-Sacra  com sete estações, percorrendo por diversas ruas da cidade. Esta devoção e Procissão foi sempre e continua a ser muito querida e vivida pelos Macaenses.

No Antigo Testamento, Moisés celebrou a primeira Páscoa com o seu Povo Israelita. Transmitiu-lhes o que Deus lhe ordenou que fizesse na terra do Egipto: “Este mês será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano. Falai a toda a comunidade de Israel e dizei-lhe: No dia dez deste mês, procure cada qual um cordeiro por família, uma rês por cada casa. Se a família for pequena demais para comer um cordeiro, junte-se ao vizinho mais próximo, segundo o número de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Tomareis um animal sem defeito, macho e de um ano de idade. Podeis escolher um cordeiro ou cabrito. Deveis conservá-lo até ao dia catorze desse mês. Então, toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao cair da tarde. Recolherão depois o sangue, que será espalhado nos dois umbrais e na padieira da porta das casas em que o comerem. E comerão a carne nessa mesma noite; comê-la-ão assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Comereis a toda a pressa: É a Páscoa do Senhor. Nessa mesma noite, passarei pela terra do Egipto e hei-de ferir de morte, na terra do Egipto, todos os primogénitos, desde os homens até aos animais. Assim exercerei a minha justiça contra os deuses do Egipto. Eu, o Senhor. O sangue será para vós um sinal, nas casas em que estiverdes: ao ver o sangue, passarei adiante e não sereis atingidos pelo flagelo exterminador, quando Eu ferir a terra do Egipto. Essse dia será para vós uma data memorável, que haveis de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em geração, como instituíção perpétua”. (do Livro do Êxodo)

Assim se cumpriu e assim aconteceu. O Povo de Israel é assim libertado da escravidão do Egipto. Comandado e liderado por Moisés realiza-se o Êxodo que é a saída do Povo Israelita do Egipto. Por terem duvidado da promessa feita por Deus pensando que Deus os tivesse abandonado quando Moisés subiu ao Monte Sinal para receber os Dez Mandamentos da Lei de Deus, foram castigados e caminharam errantes no deserto, durante quarenta anos até que chegassem a Canaan (actualmente a Palestina), a Terra Prometida e por Deus a esse povo.

No Novo Testamento, durante quarenta dias, Jesus afastou-se dos seus discípulos e retirou-se para o deserto. Jejuou e foi tentado por três vezes pelo demónio que Lhe apareceu. À primeira Jesus disse: Está escrito: “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. À segunda disse: Também está escrito: “Não tentarás o Senhor teu Deus” e à terceira disse “Vai-te Satanás, porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto”. Então Satanás deixou-O.

É neste período de quarenta dias da Quaresma que a Igreja Católica se prepara para a celebração da nova Páscoa com a Paixão e Morte de Jesus. Na Quinta-Feira Santa a Igreja celebra a Missa Vespertina da Ceia do Senhor. (Ínicio do Tríduo Pascal).

Em Macau, por tradição, após essa Missa Vespertina da Ceia do Senhor na Sé Catedral e em algumas outras igrejas, é transladado o Santíssimo para a Capela do Santíssimo Sacramento existente numa das laterais laterais existente da Igreja (na Sé Catedral é onde está o enorme vitral de Cristo-Rei), para exposição e adoração dos fiéis que nessa noite visitam as Igrejas (na língu-máquista nosotrô fála: “corrê greza”). Mesmo após a transição, esta tradição continua e é muito concorrida e seguida não só pelos macaenses, como também pelos chineses e de todos os católicos que residem em Macau.

Na Sexta-Feira Santa, único dia em que a Igreja Católica não celebra a Eucarístia mas sim a Morte e Paixão de Jesus, em Macau as cerimónias têm início às 16 horas na Sé Catedral. A Igreja vazia e despida de todos ornamentos (velas e flores nos altares) lembra e celebra assim a Morte de Jesus em três partes distintas: a Leitura da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; a Adoração da Cruz (ponto mais alto da celebração) e a Comunhão do Corpo e Sangue de Jesus consagrado na Missa da Última Ceia no dia anterior (Quinta-Feira Santa).

Texto de Carlos Coelho
Fotos: Cortesia de Áurea Pinheiro e José O Ferreira

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