Quando me emigrei para o Canadá

Mal o avião aterrou em Toronto, levantei-me com toda a pressa para retirar as bagagens do cacifo e pronta a lutar “às cotoveladas e pontapés” como fui obrigada a fazer em Hong Kong, quando reparei que todos em meu redor se mantinham sentados e ainda com os cintos de segurança e a olharem para mim com cara de espanto. Aia...gafe.

Com 4 estações num ano tivemos de chegar em pleno inverno, uns dias antes do Natal de ‘89 para termos a família reunida nesta quadra festiva. Quem chega de Macau e depara com um nevão .... assusta-se de tal maneira que a primeira coisa que deseja comprar é um capote grande e comprido até aos tornozelos (alvo de troça dos meus filhos).

Canada é mesmo um país frio; ainda bem que trouxe comigo roupa interior e chapéu de BOA LÃ SHETLAND!!! Da melhor qualidade e quentinha. Tão quentinha que quando da primeira vez fomos visitar um Centro Comercial após 2 minutos, tive um ataque de comichões de cabeça aos pés e tive de correr à casa de banho para despir toda a roupa interior

Aconselharam-me que a melhor maneira para conhecer a cidade seria utilizar os transportes públicos. Portanto, agasalhei-me com o meu capote enorme e fui apanhar o autocarro, sem saber que em cada paragem existe um # de telefone para os utentes confirmarem a hora exacta da passagem do autocarro naquela paragem. Sem saber desse pormenor fiquei ao relento à espera do A-18º, fiquei até o nariz a correr e os dentes a bater e aprendi desde então a telefonar sempre antes de sair.

Finalmente, eu e o meu capotão subimos sem tropeçar. Ao chegar ao destino, assinalo e à saída fico a olhar para o condutor e ele para mim...”Are you getting off, lady?” perguntou-me ele. “The door is not opened, ” digo-lhe eu. “It’s automatic, you have to step down for the door to open”. “Oh”, respondo. Outra gafe...

Certo dia, estava com preguiça de cozinhar e os meus filhos queriam hamburger e a experiência do “Drive Through”. Lá fomos: a famelga toda no “van” ao McDonald’s. Seguindo a fila de carros do “drive through”, observei como é que se faziam as encomendas. Cada carro parava em frente dum grande cartaz com o menu e as pessoas falavam para uma “caixa”??? Quando chegou a nossa vez, aproximei-me mais ou menos ao mesmo local e, já decididos do que queríamos ordenar, comecei a berrar para o caixote a nossa encomenda e nada....Repeti a ordem ao caixote … e nada!

O meu filho, sentado atrás de mim, começou a rir às gargalhadas, dizendo “Mom, estás a berrar para o caixote de lixo”. Que enxovalhada fiquei! Aia Outra!!!! Faltavam ainda uns passos para chegar ao microfone.

Em meados de Janeiro, tivemos uns dias “mais quentinhos”. Durante o dia a neve começava a derreter-se. Porém, numa noite o vento frio do Norte soprou forte e acordámos com uma paisagem lindíssima: as paredes e os telhados das casas, o pavimento, a relva e galhos das árvores encapados de gelo. Como fazia sol, tudo brilhava! Pus o meu capotão e saí para apreciar de perto este mundo de fantasia. Abri a porta e tudo o que vi foi o pavimento de perto. Muito de perto. O chão, as paredes, a relva, a passadeira, tudo estava encapado de gelo escorregadiço e eu não tinha nada à mão para me evitar um grande trambolhão.

Talvez o perigo do trambolhão tivesse suscitado em mim uma ideia genial: fui ferver água num panelão e despejei-a na entrada da casa para derreter o gelo. “Grande Asneira”! Uma temperatura inferior a 30º negativos, tudo o que consegui foi uma capa de gel
o ainda mais grossa. “Suspiro”! Para a estupidez não há cura, né?

Fui assim aprendendo ao longo dos anos a viver numa terra tão diferente da minha. Não foi fácil, pois tive de regressar à escola para reaprender as regras e legalismos da contabilidade canadiana. Graças a Deus, consegui singrar-me na sociedade canadiana. Gostei e continuo a gostar desta bendita nação.

Alice Costa

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