
Vivia com a minha irmã menor e andava a estudar no Seminário de S. José.
O Verão, era para nós, um período misto entre a alegria e o tédio... a alegria, como acontece a todos os miúdos da nossa idade, era devido ao facto de, por estarmos de férias, não haver necessidade de ir à Escola... “Não ter de estudar!... que maravilha”. Mas... depois da primeira ou da segunda semana, caiamos no aborrecimento, pois passávamos todos os dias na mesma e sentíamos a falta dos nossos amigos...
Só com a vinda da epóca balnear é que a nossa “sorte” mudava.
Era uma zona segura, protegida por vários quebra-mares e destinava-se ao abrigo de pequenas embarcações durante a passagem de tufões.
Havia um grande barracão no meio, habitualmente pertencente a uma Associação que fazia a gestão daquele espaço de lazer, e em ambos os lados desse barracão, pessoas particulares mandavam construir a sua própria barraca - mediante o pagamento do respectivo preço - formando as barracas um grande rectângulo, no meio do qual era uma zona aberta onde os utentes podiam nadar.
O barracão “central” dispunha de WCs e pequenos balcões para a venda de comes e bebes: bolos, pão, fruta, min (naqueles tempos, ainda não havia Kong Chai Min – Doll Noodles) e bebidas como café e chá, além de gasosas como a Coca-cola, Green Spot, Seven Up. Porém, para nós, as gasosas mais acessíveis e por conseguinte, mais populares eram as da marca Ásia por serem mais baratinha e haver uma grande variedade. Também havia o delicioso Süt tiu (sorvete), de sabores variados.
As barracas, habitualmente de forma rectangular, tinham tamanhos variados, consoante o seu preço. A nossa tinha um tamanho médio, onde se podia acomodar mais de 12 pessoas. Era constituida por uma sala com janelas, uma casa de banho e varanda... da varanda havia uma rede para pesca e uma pequena escada de onde se descia para ir tomar banho nas águas do mar.
Quando a maré não estava muito favorável, a rapaziada ia para a zona do quebra-mar, mesmo ao lado, para apanhar pequenos caranguejos e colher “ostras” coladas às rochas ou então inventava-se qualquer outra brincadeira...

No mês de Junho calhava o festejo do dia de S. João...
Para não ter de puxar mais à cabecinha, vou aqui reproduzir uma pequena parte – melhorada - de um artigo que subscrevi, há tempos, ao Portal do PCB, a propósito das celebrações do Dia de S. João e o dia da Cidade.
DIA DE S. JOÃO
O Dia de S. João, para mim, quando eu tinha os meus 12 ou 13 anos, era uma data especial! Era o dia em que uma grande parte da família se iria juntar e passar o dia todo nas barracas de banho, no Porto Exterior, onde uma das minhas Tias teve a bela ideia de mandar construir uma, para ser utilizada durante toda a época balnear.

A minha alegria era enorme, pois iria encontrar, não só, todos os meus irmãos, mas também com muitos primos, tios, alguns vindos de Hong Kong, e amigos!
Logo de manhã, os garotos e os jovens já estavam todos a postos, cada um com o seu fardo para carregar: Uns levavam esteiras, toalhas e bóias, outros garrafões de água, sacos de pães e fruta! As tias preparavam a comida para o almoço e o jantar: costeletas panadas (bife pó de bolacho), porco bafassá, capela, costeletas fritas, etc., para o almoço e normalmente era arroz carregado com porco balichão tamarino para o jantar... e muita fruta: uvas, melâncias, bananas e até ananáses mergulhado em vinho tinto!
Nesse dia, o céu apresentava-se habitualmente azul e limpo, com o sol brilhante e mar sereno.
Na “nossa” barraca de banho, enquanto os adultos jogavam mah-jong ou passava o tempo em animada cavaqueira, os pequenos e os não-tão-pequenos punham logo os respectivos calções e fatos de banhos e divirtiam-se, ruidosa e alegremente, na água do mar. Curiosamente, nesse dia, até a água do mar era mais limpa e transparente.
Ao meio-dia era a hora do almoço e havia sempre uma diligente Tia que, mais parecendo o Sargento do Dia, ia “tocar” para o almoço... e todos, sem excepção, acorriam para dentro da barraca, cada um assumindo o seu posto no respectivo “pecking order” para receber o seu almoço... toda a gente faminta!
Seguidamente, era um pequeno intervalo para descansar e fazer digestão... ninguém tocava na água depois do almoço... a garotada toda tinha de tirar uma “siesta” enquanto que os velhos continuavam as suas conversas.
Acordávamos cerca das 15:30 e lá retornávamos as nossas brincadeiras, já que tínhamos as “baterias” recarregadas!
Depois, lá para o fim da tarde, cerca das 18:00 horas, todos os presentes reuniam novamente na sala da barraca para saborear o jantar especial do Dia de S. João, o belo arroz carregado com balechão tamarinho, preparado por verdadeiras mãos de mestre... uma maravilha, como diria o meu cunhado!
Findo o jantar, todos dão uma mãozinha na limpeza e arrumação da barraca. A louça lava-se em casa, uma vez que não havia água canalizada.
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