As dores da moda

O desejo de se apresentar bem e estar na moda é algo muito comum na maioria das pessoas.
Muitos tornam-se quase escravos das tendências que são ditadas na época.
Como exemplo, na época Victoriana o conceito de beleza é ter um corpo com a forma de ampulheta.



Por conseguinte as senhoras para ficarem bonitas vestiam corpetes ou espartilhos tão apertados que chegavam a desmaiar por falta de ar.
“Vestir esta espécie de colete por tanto tempo enfraqueceu os músculos abdominais de Michele que começa a ter problemas a se sustentar de pé quando não está usando a peça. Seu estômago foi empurrado para fora da sua posição horizontal normal e agora está tão apertado que ela tem que comer até 10 pequenas refeições por dia, em vez das três habituais.”  



Para não falar da moda dos piercings e das tatuagens…
Queria falar da moda do calçado que está muito mais relacionado com a minha área.
Como sabem sou fisioterapeuta.
Ao longo de anos de trabalho no Centro de Saúde vieram bater à porta do meu gabinete inúmeras pessoas com problemas relacionado com calçados.
Nos dias de hoje a moda e o papel activo cada vez mais importante das mulheres na sociedade levam a escolhas de calçado que podem não ser as mais adequadas. Ao calçarem constantemente saltos demasiado altos submetem os pés a um declive patológico superior ao declive máximo fisiológico de 10⁰, o que, a médio e longo prazo, irá provocar alterações biomecânicas que se podem tornar irreversíveis.


Além das lesões do pé, os sapatos de saltos altos provocam alterações posturais que originam tensões musculares excessivas.

Manter a postura incorrecta pode provocar desvios posturais, alterações e acentuação da curvatura normal da coluna, tornando-a mais vulnerável as tensões mecânicas e traumas, acelerando os desgastes das articulações vertebrais e encurtamento dos músculos.
Mas o salto alto não é o único factor de risco. Os sapatos rasos, por não terem um sistema de amortecimento, aumenta o impacto ao caminhar, o que pode levar a desgaste de cartilagem de anca, joelho, coluna e tornozelo.
Portanto o mais atractivo ou bonito segundo os padrões de moda estabelecidos de hoje em dia nem sempre é o mais saudável, ergonómico e confortável para o pé.
O salto máximo fisiológico depende do declive do pé (inclinação do pé).
O declive máximo fisiológico é 10o de forma a não colocar o pé e o restante membro inferior e coluna em posições viciosas.
O declive é a relação entre o comprimento do pé e a altura do tacão; deste modo, podemos dizer que:
Se calça 36/37 o salto máximo fisiológico é 3,5cm
Se calça 38/39 o salto máximo fisiológico é 4cm
Se calça 40/41 o salto máximo é 4,5cm

3* Calçado Adequado – Declive Máximo Fisiológico;Artigo publicado na revista da Associação Portuguesa de Podologia’Saúde em Pé’ em abril 2012
Será que você sabe escolher o tipo de sapato ideal para o seu dia-a-dia?
Sabendo as características que o calçado ideal deve ter, facilmente percebemos que o calçado moderno e estilizado que vemos nas sapatarias não respeitam a saúde de postural. Por outro lado quando recorremos a lojas especializadas em calçado ergonómico, apercebemo-nos que na maioria dos casos não são assim tão ergonómicos ou têm um design que apenas se adequa a algumas pessoas.
É preciso escolher o sapato de acordo com a rotina de trabalho, como quem passa o dia sentado, em pé ou andando durante boa parte do tempo. Para um dia-a-dia confortável, a escolha do calçado é extremamente importante, pois é ele que protegerá os pés. O sapato precisa oferecer além de protecção, conforto e saúde para os pés e restante do corpo. Não há nada melhor como chegar ao fim do dia sem precisar colocar os pés de molho.

Mas o que é um calçado ideal?
“Independentemente da profissão, o calçado ideal é aquele que pode ser usado o dia todo, sem causar nenhum desconforto, bolhas, calos, má circulação do sangue, problemas na coluna ou deformidade na ponta dos pés.” Calçado ideal é aquele que você esquece que está usando. E o calçado deve estar acordo com a função e postura exigida no trabalho.

Se no seu trabalho passa muito tempo em pé
- O indicado é o calçado com salto que não ultrapasse 10% declive fisiológico do pé, para que não haja problemas de circulação do sangue ou dores na coluna. Atenção para o calçado muito fechado e de bico fino que pode favorecer o aparecimento de calos e dores nos pés.
Se no seu trabalho passa muito tempo a andar
- Use sapatos de couro natural, estáveis, com palmilhas confortáveis de forma a facilitar a transpiração dos pés e impedir a proliferação de bactérias.

Cuida bem de si!

Setembro de 2013
Teresinha Noronha

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