Aniversário da fundação do PCB e do site GenteDeMacau

Mais um ano, mais uma comemoração, mais uma almoçarada. O pretexto foi o 12º aniversário do PCB e o 7º do site www.gentedemacau.com .

Foi no dia 19 de Julho e como habitualmente no Restaurante Dim Sum em Oeiras.
Boa comizaina na companhia de velhos amigos, que mais podemos desejar?

Viva o PCB!


Aniversariantes do PCB

Muitos Parabéns e as maiores felicidades!

Julho - Fausto Manhão
Agosto - José Manuel Silva, Rigoberto do Rosário, Manuel Ferraz e Isabel Machado
Setembro - Maria João Santos Ferreira, Fernanda Pinheiro, Edith Lopes e Filipe do Rosário.

José dos Santos Ferreira


UNGA POÉMA, IOU-SUA AMOR

Di tanto, tanto qui vôs merecê,
Macau quirido,
Iou já dá pa vôs
Quelê pôco, cási nada.
Di tanto qui já panhá di vôs,
Macau abençoado,
Iou já dá pa vôs
Unchinho na-más, cási nada.


Vôs são iou-sua berço,
Semprei, sempre,
Razám dii ou-sua vaidade.
Na ora di rezá térço,
Sempri, sempre,
Iou lembrá vôs co humildade.

Iou-sua filiz infância.
Escola pa iou prendê ancuza,
Campal, lugar pa brincá;
Porçolana di arôz di tudo dia,
Liçám di hónra,
Macai dii ou-sua coraçám,
Tudo vôs já dá pa iou.

Vôs sã iou-sua altar,
Sempri, sempri,
Razám dii ou-sua fé cristám.
Vôs têm tudo lugar,
Sempri,sempre,
Na iou-sua coraçám.


Pramor di vosso crença,
Iou têm iou-sua religiám
Pa sirví Dios co fervor,

Pa prendê dotrina qui Su Filo
Já vêm Mundo prega;
Macau cristám,
Si iou-sua alma mer’cê salvaçám,
Sã vôs iou têm-qui gardecê.

Unga Pátria inchido di glória,
Passado fêto co bravura,
Co estória qui mundo inveza.
Unga bandéra respetado,
Unga língu burifado di beleza,
Macau português,
Tudo vôs já dá pa iou.

Di tanto, tanto qui vôs merecê,
Di tudo qui iou já panhá,
Io upa vôs,
Macau quirido,
Qui-cuza já dá?
- Unga poéma,
Iou-sua amor!
Qui-cuza más?

5 di Janéro di 1985
1980s - foto de Macau Old Photos Facebook

Bandeiras de Macau

Bandeira da Região Administrativa Especial de Macau
Esta bandeira representa a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM)
 desde 1999, ano da transferência da soberania de Macau à República Popular da China (antes de 1999, Macau estava sob administração de Portugal).

Descrição
Esta bandeira regional é verde, tendo ao centro uma flor de lótus branca de três pétalas. Por cima da flor estão cinco estrelas e por baixo, a ponte e água do mar.

As cinco estrelas simbolizam a unificação de Macau à China, sendo Macau parte inalienável da República Popular da China.

A flor de lótus, flor preferida dos residentes de Macau, está prestes a desabrochar sob a luz das cinco estrelas, que representam a China, traduzindo a prosperidade e o desenvolvimento de Macau.
As suas três pétalas representam a Península de Macau e as ilhas de Taipa e Coloane que constituem Macau.

A ponte e a água do mar reflectem a especificidade do ambiente natural de Macau.
  
Bandeiras antigas/históricas
Antes da entrega de Macau à República Popular da China por Portugal em 1999, Macau utilizava oficialmente apenas a bandeira de Portugal, visto que ela não tinha uma bandeira territorial própria. Em 1967, houve propostas para dar a cada província ultramarina portuguesa uma bandeira própria, que consistia na bandeira de Portugal carregada no canto inferior direito com o brasão de armas da respectiva província, mas nenhuma foi aprovada.

Por isso, a colónia portuguesa de Macau sempre foi oficialmente representada pela bandeira de Portugal e muitas vezes oficiosamente pela bandeira do Leal Senado, que é a câmara municipal do Concelho de Macau, um dos dois concelhos existentes na colónia. Esta bandeira municipal apresenta um brasão de armas de estilo português suspenso ou sustentado por dois anjos e uma tira branca com a inscrição "Cidade do Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal".

Havia também uma bandeira do Governo de Macau, que ostenta em fundo azul celeste o brasão de armas oficial da colónia portuguesa de Macau (ou Território de Macau). Esta bandeira não é a bandeira oficial da colónia portuguesa de Macau, mas sim apenas do Governo português de Macau. Apesar disso, esta bandeira foi usada algumas vezes para representar oficiosamente Macau.


As Ruínas de S. Paulo

2014-01-06 (Virgínia Badaraco)
As Ruínas de São Paulo em Macau são as ruínas da antiga Igreja da Madre de Deus e do adjacente Colégio de São Paulo, importante complexo do século XVI destruído por um incêndio em 1835. A antiga Igreja da Madre de Deus, o Colégio de São Paulo e a Fortaleza do Monte foram todas construídas pelos jesuítas e este conjunto pode ser identificado como a "Acrópole de Macau". Tudo o que resta da maior e mais bela das igrejas de Macau é a imponente fachada de granito e a escadaria monumental de 68 degraus. Em contrapartida, não restaram muitas coisas do Colégio.

As Ruínas de São Paulo, juntamente com a Fortaleza do Monte, estão incluídas na Lista dos monumentos históricos do Centro Histórico de Macau, por sua vez incluído na Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Pode-se considerar que esta imponente estrutura é o símbolo máximo da cultura ocidental-cristã em Macau.

Segundo o "Atlas mundial de la arquitectura barroca" (uma publicação da UNESCO em 2001), a fachada da Igreja, juntamente com a Igreja de S. José, é um exemplo único da arquitectura barroca na China. As Ruínas de São Paulo são um dos melhores exemplos do valor universal excepcional de Macau.

As Ruínas de São Paulo, mais concretamente a Igreja da Madre de Deus, foram classificadas, em 2009, como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.

Igreja da Madre de Macau

Vista da fachada da igreja por Wilhelm Heine, 1854.
A Igreja da Madre de Deus, também chamada vulgarmente de Igreja de São Paulo, foi construída em 1565 em anexo ao Colégio Jesuíta de São Paulo, a primeira instituição universitária de tipo ocidental no Oriente. A igreja, excepto a fachada, era construída em taipa e em madeira e, de acordo com os registos, estava ricamente decorada e mobilada.

Em 1595 um incêndio causou algumas danificações à Igreja e ao Colégio. O colégio foi rapidamente reconstruído, mas a Igreja só acabou de ser reparada em 1602. Após as grandes reparações, ela tornou-se numa bela e grandiosa basílica. Naquela altura, ela era a maior igreja católica do Extremo Oriente e era muitas vezes chamada de "Vaticano do Oriente". Uma inscrição em latim, à esquerda da base da fachada, confirma esta data de reconstrução: "Ano de 1602, Macau dedica à Santíssima Virgem Maria". Em 1603, entrou de novo em serviço. Os jesuítas foram forçados a abandoná-la em 1762, quando foram expulsos pelas autoridades portuguesas, durante a supressão da Companhia de Jesus. Em 1835, entre as 18h00 e as 20h15, um violento incêndio, começado nas cozinhas do Colégio, alastrou-se rapidamente, destruindo completamente o Colégio e a Igreja. Apenas a elegante e grandiosa fachada de granito é que escapou à destruição. Alguns dizem que no facto de a fachada conseguir escapar à destruição foi um autêntico milagre de Deus. A Igreja nunca mais foi reconstruída.

Descrição da fachada

Espaço atrás da fachada com acesso ao museu
Vista da fachada da igreja por Wilhelm Heine, 1854
(Wikipédia)
Espaço atrás da fachada com acesso ao museu (Virgínia Badaraco)
A fachada e a escadaria monumental só foram concluídas em 1640. A imponente fachada de granito foi trabalhada, durante muitos anos, por cristãos japoneses exilados e artistas locais, sob a orientação do jesuíta italiano Carlo Spinola. Tem 23 metros de largura e 25,5 metros de altura. Esta fachada foi construída com base no conceito clássico da divina ascensão, por isso está dividida em 5 níveis horizontais encimados por um frontão triangular. Cada nível da fachada representa um determinado estado da caminhada espiritual ascendente do crente ao Paraíso, que é o último estado desta longa caminhada cristã e o lugar onde vão todos os homens que, resistindo à tentação do Diabo, conseguiram fazer a caminhada toda e alcançar a santidade. Por isso, o frontão (o quinto e último nível) simboliza a Santíssima Trindade, que vive no Paraíso.

A fachada, imponente e magnífica, é de estilo maneirista/barroco, mas também apresenta estilos da ordem jónica, da ordem coríntia e da ordem compósita. É ricamente decorada com imagens bíblicas, representações mitológicas, símbolos do Paraíso e do Mistério pascal, inscrições religiosas em chinês, crisântemos japoneses, uma caravela portuguesa, leões chineses, esculturas e estátuas de bronze com imagens dos fundadores da Companhia de Jesus (Santo Inácio de Loyola, São Francisco de Borja, São Francisco Xavier e São Luís Gonzaga), da Virgem Maria, do Menino Jesus, de anjos e de demónios. As imagens da Virgem Maria ocupam uma posição central nesta fachada, justamente porque esta fachada pertence a uma igreja que se chama "Madre de Deus" (ou "Mãe de Deus", ou seja, a Virgem Maria).

Esta fachada reflecte o estilo arquitectónico dos jesuítas e uma fusão de influências à escala mundial, regional e local. Ela é uma peça arquitectónica muito rara e apresenta elementos de influência europeia, chinesa, japonesa e de outras partes da Ásia. É considerada um verdadeiro sermão e síntese doutrinal em pedra, porque ensina as pessoas, através de imagens e de algumas inscrições em chinês e em latim, a doutrina católica e os principais ensinamentos defendidos na Contra-Reforma católica, como a transubstanciação, o papel especial da Virgem Maria na salvação, a graça, a missa, a questão da justificação, os santos, etc. Actualmente, a fachada de São Paulo é um dos símbolos e centros turísticos de Macau. Funciona também simbolicamente como o altar da Cidade.

Colégio de São Paulo (Macau)

Alguns estudiosos que passaram pelo Colégio: Matteo Ricci (esquerda), Adam Schall (centro), Ferdinand Verbiest (direita); em baixo Xu Guangqi e a sua neta Candide Hiu
Alguns estudiosos que passaram pelo Colégio: Matteo Ricci (esquerda),Adam Schall (centro), Ferdinand Verbiest (direita); em baixo Xu Guangqie a sua neta Candide Hiu
wikipédia
O Colégio de São Paulo, também conhecido como Colégio da Madre de Deus foi uma instituição de ensino universitário fundada em 1594 por Jesuítas ao serviço do império português no âmbito do acordo do Padroado. O Colégio foi a primeira instituição universitária de tipo ocidental na Ásia Oriental, contando com um programa académico extenso, equivalente ao currículo de uma universidade.

O Colégio de São Paulo de Macau foi fundado por Alessandro Valignano, quando em 1594 ampliou a antiga escola da Madre de Deus com o objectivo de criar uma escola para preparar os missionários jesuítas que viajavam para o oriente. O seu programa académico incluía disciplinas fundamentais como a teologia, filosofia, matemática, geografia, astronomia, e as línguas Latim, Português e Chinês, além de uma escola de música e de artes. Também oferecia uma instrução básica para os habitantes da cidade, ensinando-lhes coisas simples mas muito importantes, como ler, a escrever e a contar.

O Colégio de São Paulo de Macau teve enorme influência na aprendizagem pioneira das línguas e culturas orientais, abrigando os primeiros sinólogos ocidentais, como Matteo Ricci, Johann Adam Schall von Bell e Ferdinand Verbiest, entre muitos estudiosos notáveis da época. Tornou-se um centro asiático de formação de missionários católicos e contribuiu significativamente na difusão do Catolicismo na China e em todo o Extremo Oriente.

Ponto de partida de missionários católicos para os diferentes países da Ásia Oriental, principalmente o Japão e a China, desenvolveu-se interligado com o próspero comércio Macau-Nagasaki no que ficou conhecido como Período Nanban. Em 1639, depois de uma revolta atribuída à influência religiosa, o catolicismo foi banido no Japão e os portugueses foram expulsos. O Colégio tornou-se então um refúgio para os sacerdotes em fuga. Os Jesuítas abandonaram-no em 1762 quando foram expulsos pelas autoridades Portuguesas, durante a supressão da Companhia de Jesus. Em 1835 os edifícios foram destruídos por um incêndio. Da Igreja, restou a imponente fachada de granito e uma escadaria monumental, mas pouco do colégio.


Texto da Wikipédia

Caldos da minha mãe

Caldo para quem sofre de Glicosúria

Coentros – 2 molhinhos
Nabo chinês – 2 (aprox. 15cm)
Água – 4 tigelas e deixar cozer até ficar 1 tigela e meia.

Pronto para ser servido!

Jardins a visitar

Jardim de Camões


Foto Virgínia Badaraco
Foto Virgínia Badaraco
Esta elevação densamente florestada fazia parte, no Séc. XVIII, dos terrenos da casa ocupada pelo administrador da "British East India Company". Os ingleses saíram em 1835 e o proprietário português mandou construir uma gruta para albergar o busto de Luís de Camões, o maior poeta português. O busto que actualmente ali se encontra foi inaugurado em 1886, quando a gruta se tornou propriedade do Governo. Pela encosta, nas traseiras da gruta, pequenos caminhos levam até ao topo do monte  onde se encontram um pavilhão chinês e diversas mesas e bancos de pedra onde os homens se juntam para jogar o xadrez chinês.

Foto Virgínia Badaraco
Em frente à gruta encontramos um amplo jardim, sombreado por banianas, para onde os habitantes passeiam as suas gaiolas com pássaros, exercitam o seu tai chi matinal ou convivem com os amigos. No extremo do jardim pode admirar-se uma fonte decorada com uma escultura em bronze intitulada "Abraço", que simboliza a centenária amizade entre Portugal e a China. Adjacentes aos Jardins de Camões ficam a "Casa Garden", antiga residência do Administrador da "British East India Company", que é hoje, depois de devidamente remodelada, uma galeria de arte e o Antigo Cemitério  Protestante atravessado por caminhos ladeados por árvores floridas e pedras tumulares que recordam os mercadores, os missionários e tantos outros estrangeiros que fizeram de Macau o seu lar.

Endereço: Praça Luís de Camões, MacauHorário: Das 6.00h às 22.00hPercursos de autocarro na zona: 17

Texto tirado do site Turismo de Macau

Ditados populares

  • O seu a seu dono
  • Muito riso, pouco siso
  • Nem tudo o que luz é ouro
  • Mais vale um "toma" que dois "te darei"
  • Quem tudo quer tudo perde
  • Para bom entendedor meia palavra basta
  • Perdendo tempo não se ganha dinheiro
  • Filho de peixe sabe nadar
  • Grande nau grande tormenta
  • Mais vale um mau acordo que uma boa demanda
  • A palavras loucas orelhas moucas
  • Ninguém é profeta em sua terra
  • Não te metas a comprar o que não podes pagar
  • Ao rico não faltes, ao pobre não prometas
  • Do prato à boca perde-se a sopa
  • Quem não deve não teme
  • Filhos criados, trabalhos dobrados
  • Quem desdenha quer comprar
  • Quem a alto sobe de alto cai
  • Galinha velha faz bom caldo
  • Não dá quem tem, dá quem quer bem
  • Pratica o Bem sem olhar a quem
  • Vale mais pão duro que figo maduro
  • As rosas caem os espinhos ficam
  • Madruga e verás, trabalha e terás
  • Quem não poupa reais não junta cabedais
  • Vale mais prevenir que remediar
  • Quem muito fala pouco acerta
  • Nem sempre galinha, nem sempre sardinha
  • Quem vê caras não vê corações
  • Vê-se pela aragem quem vai na carruagem
  • Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és
  • Em terra de cegos quem tem um olho é Rei
  • Homem prevenido vale por dois
  • Quem corre por gosto não cansa
  • Quem casa quer casa.
  • Entre marido e mulher não se mete a colher.
  • Quem dá o que tem a mais não é obrigado.
  • Burro morto cevada ao rabo.
  • Depois da noiva casada não lhe faltam pretendentes.
  • A mulher e a sardinha querem-se das mais pequeninas.
  • A mulher e a pescada querem-se das mais gradas.
  • Os homens não se medem aos palmos.
  • Quem tem cu tem medo.
  • Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.
  • Gato escaldado de água fria tem medo.
  • Ao menino e aos borracho, põe Deus a mão por baixo.
  • Gaivotas em terra tempestade no mar.
  • De Espanha, nem bom vento nem bom casamento.
  • Homem pequenino, ou velhaco ou bom dançarino.
  • Guarda de comer não guardes que fazer.
  • Nicolau Xavier - Como caí nos Açores - Parte I

    COMO “CAÍ” NOS AÇORES ... (parte I)

    Num certo dia do longínquo ano de 1967,  recebi do Comando Territorial Independente de Macau uma convocação para ali me apresentar a fim de regularizar a minha situação referente ao recrutamento militar.  Apresentei-me na data indicada e fui então informado
    de que tinha de estar em Portugal em princípios de Outubro  num determinado quartel situado na Ajuda, Lisboa, a fim de participar no COM (Curso de Oficial Miliciano), ministrado em Mafra.  Acto contínuo, recebi a competente Guia de Marcha.

    Intimamente, tanto eu como  a minha família sabíamos de antemão o resultado da convocação ao referido Comando.  Quando regressei à casa, a minha família recebeu a esperada notícia com alguma naturalidade, notando-se embora algum nervosismo e preocupação, principalmente da parte da minha querida mãe que já tinha visto partir há bem pouco tempo a Anabela, minha irmã, para Lisboa a fim de prosseguir os seus estudos na Universidade de Lisboa.

    Segui sozinho em princípios de Outubro para Lisboa, via Hong Kong. Na antiga Ponte-cais do Porto Exterior estiveram amigos, colegas de trabalho e até amigos dos meus pais. Até então não conhecia as emoções provocadas por uma despedida “a sério” que poderia, na pior das hipóteses, ser a última de Macau.

    Iniciava então a minha segunda viagem a Portugal que tinha visitado em 1964 na companhia do Alfredo Ritchie (médico reformado e hoje meu cunhado) para estarmos presentes como representantes de Macau num Encontro organizado pela Mocidade Portuguesa, com a participação de jovens de todo o antigo Ultramar.  Data dessa altura a 1ª oportunidade de percorrer o País em dois meses.

    Apresentado no quartel da Ajuda, segui no mesmo dia de comboio para Mafra, concretamente para as traseiras da sua majestosa Basílica, onde ficava a EPI (Escola Prática de Infantaria), que passou desde então a ser a minha casa durante os próximos seis meses de instrução militar: sensivelmente três meses de instrução básica e outros três destinados à especialidade.  Lembro-me sobremaneira dos fins de semana que então passava na Ericeira, Amadora e Lisboa.

    O mundo é realmente pequeno. Passados poucos dias e para grande espanto meu, cruzei-me em Mafra com o conterrâneo Henrique Nolasco da Silva (“Ricky”). Maior ainda foi o nosso espanto quando soubemos que estávamos integrados na mesma Companhia embora em Pelotões diferentes. Foi ele o 1º macaense que encontrei na minha vida militar. Mais tarde, outros dois apareceram quando menos esperava. Mas essa é outra história.

    Durante a estadia na EPI, aprendemos um pouco de tudo: desde conhecimentos militares e sobrevivência até à condução de homens, sem esquecer os exercícios físicos que exigiam de nós aturados esforços e sacrifícios.  

    Hoje, as recordações são mais que muitas. Depois do pequeno almoço, nos dias de semana reunimo-nos em aulas teóricas e práticas na Escola e nos seus arredores, especialmente na enorme Tapada de Mafra onde se situavam a “Aldeia dos Macacos” (para exercícios físicos) e  a carreira de tiro – armas ligeiras e pesadas.  As  quase intermináveis marchas e os longos “crosses” que fazíamos muitas vezes  em condições meteorológicas adversas com uma arma ao ombro que ora era uma Mauser ora uma G-3, e com uma munição real na câmara nos exercícios finais. Os “passeios” diurnos e sobretudo os nocturnos que começavam quando éramos acordados subitamente por uma ordem transmitida por  um alto-falante e tínhamos de nos apresentar  minutos depois devidamente equipados e armados num certo local para sermos transportados em viaturas militares e largados em sítios desconhecidos apenas com um mapa e uma bússola, com a indicação de que nos queriam ver à hora do pequeno almoço no quartel, passeios esses  realizados por estradas, montes e vales na região de Mafra-Torres Vedras.  O rigoroso inverno vivido em Mafra, a humidade que cobria as espessas paredes do Quartel, a água fria (para não dizer, gelada) que de repente saía das torneiras quando todo ensaboado se estava no banho... etc.  Coincidências?  Nós, pobres cadetes, tínhamos noção de que tudo o que sucedia não era por acaso mas fazia parte da nossa formação, sujeitando-nos a todo o tipo de provações e de que isso contribuía na nossa mentalização para situações inesperadas e bem piores num teatro de operações militares em algumas (antigas) províncias ultramarinas, como Angola, Moçambique e Guiné.  Como era natural, os cadetes provinham de diversas zonas do País, não se conheciam anteriormente e tinham formação académica/comportamentos diferentes.  Mas porque todos nós “estávamos no mesmo barco”, passámos com o tempo a criar muito naturalmente uma sâ camaradagem, ajudando-se mutuamente nas tarefas colectivas.  Daí nasceu até uma certa amizade entre muitos, tão visível na hora da despedida.

    Casos dignos de registo:
                      
    Entre os meus camaradas, encontrava-se um, de apelido R..., que curiosamente tinha feições orientais. Era tratado entre nós como o “Vietcong”.  Ele não se ralava com o facto e jurava a pés juntos que não sabia porque tinha “aquela cara” e que tanto quanto sabia nunca tivera na sua família alguém de ascendência oriental.  Partiu a coronha duma Mauser num dos nossos “devaneios nocturnos” quando tentava saltar um muro de pedras no meio da escuridão da noite.

    Um outro camarada, de nome J..., lisboeta, com ares de filho de gente fina, era vítima preferencial das nossas brincadeiras. Na caserna, nunca encontrava a sua cama em condições para nela se deitar: ou porque os lençóis estavam dobrados a meio entre a cama e os cobertores, o que não lhe permitia estender os pés, não tinha cobertores ou fronhas ou ainda ambos, ou tinha sal ou açúcar entre os lençóis e cobertores, etc.  Para ele, ir para a cama foi sempre um pesadelo!  No fundo, ele sabia que não havia maldade nem má intenção nessas partidas e até certo ponto aceitava ser o “bobo da festa”. 

    Havia ainda um outro, de apelido M..., de Coimbra, muito brincalhão e que tinha sido campeão nacional na categoria de juniores, se bem me recordo em lançamento de peso. Era o chefe que arquitectava as partidas para “chagar” o mencionado camarada J.  Na sala das refeições, sentavam-se oito cadetes em cada mesa rectangular.  Diariamente, um dos cadetes estava de serviço: servia os restantes num determinado sentido da mesa, antes de se servir. Acontece, porém que, por força da ordem numérica atribuída a cada um de nós, ao J... ( “o menino bonito”) calhou ficar na mesma mesa onde estava o M...  Resultado: o J... servia os outros mas era impreterivelmente o último a ser servido naquela mesa. Às tantas, o “alfacinha” andava com a cabeça perdida!

    Quando começou a Instrução Básica, fiquei com algum receio ao ver o camarada M... que fisicamente era muito bem constituído e também outros colegas, todos eles mais fortes do que eu.  Pensei com os meus botões: “estou bem tramado” no meio destes gigantes! Mais tarde, no decurso da formação fiquei mais tranquilo quando vi o M... a andar e não a correr … porque infelizmente tinha os pés chatos! Era um tipo “porreiro”.

    Findo o período da Instrução Básica, realizou-se a tradicional cerimónia do Juramento da Bandeira diante da Basílica de Mafra ao fundo da escadaria, sob uma intensa e impiedosa chuva, deixando em nós uma recordação bem amarga e inesquecível.   Mais de 700 cadetes fardados e em formatura completamente encharcados até ao tutano! 


    Após a Instrução Básica, fomos todos gozar umas curtas férias. Pouco depois, entrou-se na fase seguinte da formação - a Especialidade  - em que cada um ia adquirir em locais diferentes do País conhecimentos específicos duma determinada área nas diversas Armas.  Escolhido para a Arma da Infantaria, continuei em formação em Mafra por mais três meses, juntamente com centenas de camaradas do mesmo Curso que apenas terminou no verão de 1968, com a realização dos exercícios finais em que o grupo onde eu estava inserido subiu o rio Tejo nas primeiras horas da manhã em barcos de desembarque desde o Cais da Ribeira das Naus (situado defronte ao Terreiro do Paço em Lisboa)  até algures perto de Santarém onde ficámos acampados enquanto outros grupos eram aerotransportados ou por via terrestre para os seus arredores numa acção simulada que durou uma semana.  Helicópteros voavam pelos ares na subida do rio.

    (cont. na próxima Edição)

    Genetes by Filipe Rosário

    Genetes

    A minha avó paterna, Maria Josefina da Luz do Rosário, conhecida como “I Châi”, trabalhava como costureira no Palácio do Governo, nas horas do seu descanso confeccionava comidas, bolos, guloseimas e em especial bolos de natal para vender na época.

    Um dia estava a arrancar uma figueira infestada de formiga branca no quintal da sua casa, caiu, partiu ambos os braços, neste ano forçosamente teve que recorrer os bolos de Natal a uma parente dela, esta vendeu, sem lhe perdoar com o preço, numa situação de que remédio começou a ensinar a minha mãe Maria Lourdes do Rosário de profissão enfermeira a fazer esses bolos e outras comidas macaenses.

    As maiorias das receitas das comidas macaenses que temos não estão escritas em papel como à boa e à antiga moda macaense.

    Muita gente confecciona o GENETE CORN STARCH, tenho visto várias receitas dos outros, tenho sempre seguido esta da família, agora vou colocá-lo no jornal do PCB criado pela Virgínia Badaraco, “MAGAZINE”, nesta receita só a quantidade dos ingredientes estavam registados em papel e o modo de preparação na cabeça de cada um que o prepara.

    GENETE CORN STARCH

    Farinha Maizena (corn starch) -    Uma libra
    Gema de ovos                       -     Seis
    Açúcar                                  -    Quatro taeis  (168 grama)
    Manteiga                               -    Quatro taeis  (168 grama)
    Fermento (baking powder)      -    Uma colher de chá

    Manteiga de preferência da qualidade Ngau Mui ou Golden Pipe.

    Modo de preparação:

    Aquecer o forno, a temperatura e o tempo para cozer varia a diferentes tipos de forno.

    1 Peneirar a farinha juntamente com a colher de fermento 
    2 Preparar a gemada
    3 Depois da gemada preparada, misturar bem a farinha com a gemada
    4 Juntar a manteiga à mistura da maizena e gemada
    5 Amassar a mistura com a manteiga, amassar até que a massa não cole nas mãos   
    6 Depois da massa bem preparada colocar para a seringa da massa
    7 Injectar a massa, cortar a massa em pequeno pedaço de tamanho o mais aproximado possível do mesmo tamanho.

    Colocar no forno e cozer.

    A temperatura e o tempo para cozer varia de forno para forno.



    As receitas da Ti Mari

    Receitas de Bolinholas
    40
    PINEAPPLE LIME ICE CREAM
    Boil together for about 5 minutes
    1 ½ cup fuls of sugar 1 cup ful of water, stir in
    1 ½ cup fuls of shredded pineapple
    3 tablespoon fuls of lime juice chill thoroughly and add
    1 ¼ cup fuls of Evaporated milk
    Freeze in ice and salt.

    41
    SAÇAGÚ
    1 chupa d’arroz pulú,  pegado 2 gemas de ovos, e 1 coco.
    N.B. arroz pulú, ou farinha trigo.

    42
    PÃO DE LEITE
    12 taeis de farinha arronz, 1 coco, 10 chupas de leite, 30 porcelanas
    de água, 1 catte e ½ de assucar rafinado, e 1 chammana de manteguilla.

    CATTE - 1 cate corresponde a 604,8 gramas.  1 cate tem 16 taeis e 1 tael equivale a 37,8g.

    CHUPA – pg 3 - do malaio chupaq, medida que equivale a um quartilho,
    o,35 litro, medida antiga portuguesa. No Norte de Portugal  é sinónimo
    de 0,5 litro.
    Receitas da TI Mari - Livro manuscrito no século 19, (com 138 anos) oferecido gentilmente pelos Confrades Florita Morais Alves e Victor Morais Alves, à Confraria da Gastronomia Macaense, da autoria da Senhora D. Francisca Alvez dos Remédios (Ti Mari).


    Nota: As receitas aqui expostas são exactamente as que estão escritas nos apontamentos da senhora D. Francisca dos Remédios. Quanto à confecção das mesmas fica ao critério de cada um. Vá lá, puxem pela imaginação e cozinhem com paixão e não se esqueçam de nos informar dos resultados obtidos, combinado?  

    Sabores do mundo

    Voltando aos sabores de Portugal tenho de fazer referência à “bola de berlim” que tantas alegrias dá à pequenada e crescidos na época da praia e mesmo durante todo o ano.
    Vou transcrever um excelente artigo de Jorge Pinheiro publicado recentemente no livro “Post It - Crónicas Curtas”.

    “A BOLA DE BERLIM (2004)

    Contrariamente a muitas colegas, ela ia viajar. Outras não passariam da montra da Pastelaria Felismina expostas à cobiça de gulosos clientes na certeza de serem devorados sem verem o mundo. Ela porém, ia à praia.

    Com ar sorridente e muito redonda, a bola de Berlim deixou-se aconchegar no fundo da caixa. Era uma bola simples. Sem creme. A sua natureza rotunda garantia-lhe boa disposição. Dentro da caixa tudo era doce. Um ligeiro cheiro a fritos fazia-a sentir-se em casa. A escuridão transmitia-lhe frescura e serenidade.

    A bola de Berlim estava preparada para enfrentar a precaridade da vida. Tudo se decidiria nas próximas dez horas. Ou seria devorada ou seria inapelavelmente deitada ao lixo. Sabia que seria assim e, no entanto, ia receosa.

    Amália Simionca pegou em duas caixas de bolas e entrou no barco. Lá atrás, Alexandre, um mocetão da ria, acelerou os 75 cavalos do motor em direcção à praia. Estava maré cheia na manhã límpida de sudoeste moderado. O “Espadarte” deslizou até à ilha. Eram nove horas da manhã.

    Amália lançou as pernas esbeltas e tisnadas para fora do barco. Calções curtos deixavam entrever uma nesga da perna branca no resvalar da amurada. Corpo suave e musculado, sorriso aberto que olha de frente. Há três anos viera da Roménia. Buscava legalização. Se encontrasse o homem certo talvez casasse.

    Pegou nas duas caixas de bolos e lá foi praia fora. Amália percorria quilómetros à espera que a chamassem. As bolas gostavam de Amália. O modo calmo e prazenteiro da mulher inspirava-lhes confiança para enfrentar o seu único dia de vida.

    De vez em quando a tampa da caixa abria-se. A bola de Berlim via a cara sorridente de Amália e, por cima, um céu azul reverberante de intensidade. Ao seu lado uma colega lançava um grito aflito e desaparecia puxada por duas tenazes. A tampa fechava-se e a caixa ficava mais vazia.

    Perto do meio-dia o calor era insuportável. As bolas com creme que ainda sobreviviam berretiam pegajosamente com ligeiro cheiro a ranço.

    A tampa abria e fechava. A luz entrava e saía. O sorriso de Amália rapidamente desaparecia. A ela ninguém a queria … A bola de Berlim pôs-se a pensar se não seria falta de creme.

    Eram quase seis da tarde e nada. Amália fazia penosamente a última ronda dos guarda-sóis. De repente um sinal. Um grupo grande de veraneantes chamava de longe. Amália correu esperançada em libertar o resto da carga. Era um grupo com grande apetite. A tampa abria e fechava … No fim só restava ela, a bola sem creme, encurralada no canto escuro da caixa.

    E a tampa fechou-se definitivamente deixando-a sozinha. Sentiu a caixa muito grande. Muito desconfortável. Sentiu-se rejeitada.

    Subitamente, vindo do mar, um miúdo em correria gritou: “Mãe, quero uma bola sem creme”. A bola de Berlim sabia que era a sua vez. Sentiu-se excitada. Um misto de receio e de exaltação. Arredondou-se o melhor que pode. A pinça agarrou-a com firmeza. A bola tremeu, sustendo um ligeiro pânico. O sorriso indulgente de Amália deu-lhe coragem. Rapidamente foi introduzida num saco transparente e cuidadosamente depositada na areia.

    Num breve momento a bola de Berlim viu o mundo. Viu o mar esmeralda na rebentação branca. Viu conchas espalhadas ao acaso pelo areal. Viu o sol brilhando lá no alto. Viu gente. Muita gente. Gente que falava. Gente que nadava. Gente que parecia dormir. Gente gorda. Gente magra … Muita gente.

    O miúdo chamava-se Pedro. Dirigiu-se guloso à bola de Berlim que estremeceu contendo um grito de pavor. À medida que o miúdo se aproximava as mãos pareciam cada vez maiores. Num assalto final agarrou na bola que se encolheu num reflexo desesperado. Antes de se dilacerada, a última imagem que teve foi uma boca escancarada com dentes brancos muito afiados abrindo-se horrivelmente sobre si.

    Ao longe Amália segue em direcção ao barco, feliz por ter acabado mais um dia de trabalho. Alexandre olha de soslaio as pernas tisnadas da mulher. O barco arranca suavemente no calor do pôr-do-sol.”

    Isabel Machado