Dificuldades de comunicação

Muitas famílias macaenses emigraram para o Brasil nas décadas de 1960 e 1970. A maioria escolheu São Paulo como destino. Uma destas famílias, composta por mãe, filha, genro e netos, tiveram de aprender novas palavras (brasileiras) para se adaptarem à vida quotidiana local. Todos os membros dessa família não tiveram grandes dificuldades, exceto a mãe, já com os seus 70 anos, que só falava patuá e cantonense, nem enquanto viveram em Macau falava português.

Um dia, esta senhora foi a uma padaria com a sua filha para fazerem algumas compras para o "chá da tarde" na sua residência, já que iam  ter a visita de alguns amigos. Quando entraram no estabelecimento, enquanto a filha olhava para algumas  prateleiras de um lado, a mãe (que só falava patuá), foi diretamente ao balcão, onde o próprio dono atendia os clientes. Ela olhou, olhou.... e disse:

- Iou querê dois espingarda cô 10 granada.
  (Eu quero duas espingardas e 10 granadas)
O dono da loja olhou assustado para a senhora e respondeu trémulo:
- Aaaaaah... senhora. Acho que a senhora entrou no lugar errado. Nós não vendemos nenhum armamento bélico aqui nessa loja.
- Ouví! Si sã belo ô nân sã, iou não quero sábi. Iou querê dois espingarda cô 10 granada, j´ouví?
  (Oiça! Se é belo ou não, eu não quero saber. Eu quero duas espingardas e 10 granadas, ouviu?)
Nesse momento a filha da senhora aproxima-se, porque viu que a mãe estava a ficar nervosa. Após algumas explicações, a filha virou-se para a mãe e disse-lhe:
- Mãe, não sã espingarda nem granada. Aqui na Brasil, acunga pám comprido chamá pám-bengala, não sã espingarda. Acunga bolo-doci chamã bomba di chocolate, não sã granada.
 (Mãe, não são espingardas nem granadas. Aqui no Brasil, aquele pão comprido chama-se pão-bengala e não espingarda. Aquele bolo doce chama-se bomba de chocolate e não granada).
A mãe nervosa, disse:
- Aia, boboriça, iou só sábi que são unga asnera que explodí, arrebentá, qui sabi si sã bomba ou granada.
 (Aia, que disparate, eu só sei que é uma coisa que explode e rebenta, que importa se é bomba ou granada)

Esta é uma história real.
Texto de Rigoberto Rosário

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