Macau 1970 - A cidade flutuante


Quando cheguei a Macau foi na madrugada (00H30M) do dia 23 de Julho de 1970, a bordo do ferry-boat "SSMacau" que atracou no porto exterior.

Era de noite o que não deu para ver com detalhe o que havia à minha volta nas margens do Rio das Pérolas. Foi portanto de dia, num outro momento que observei todo o bulício de grandes e pequenos barcos, todos muito juntinhos, desde a margem até ao meio do Rio das Pérolas, enfim uma cidade dentro de outra cidade ali junto do Porto Interior!
Viviam aí muitos milhares de chineses e que raramente vinham a terra, muitos só o faziam em tempo de tufão. As pessoas que lá viviam avançavam de barco para barco como nós passeamos nas ruas. Os barcos pequenos chamam-se "sampan" (palavra inglesa) também chamados barcos de "três tábuas", onde se abrigam famílias inteiras e estão presos com varas de bambu enterradas na lama do rio para evitar que os ventos do tufão os afundem. Mas quando os ventos eram muitíssimo fortes muitos desses pequenos barcos eram colocados no passeio ao longo da Rua das Lorchas. No meio do rio estavam os de maior envergadura, chamados juncos, são os que vão à pesca e abastecem de pescado toda a cidade de Macau.

Ouvi muitas vezes relatos que nos sampan se amontoavam adultos e crianças quase uns por cima dos outros e que nos juncos embora fossem barcos de pesca, eram igualmente as casas dos seus proprietários que tinham outro poder económico. O que acontecia ali naquela comunidade fluvial piscatória era exactamente igual ao que sucedia com a população urbana de Macau, uns (poucos) viviam melhor que (muitos) outros!
Quase todos os barcos navegavam à vela. Velas de panos remendados, de cor predominante acastanhada e até pretas. Mas vi bastantes saindo ou entrando no porto interior, de velas desfraldadas que pareciam leques gigantes. "Co assi bom cara Macau"        Texto e foto: Manuel Camejo Almeida

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